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terça-feira, 8 de março de 2016

Cada sociedade inventa seu jeito para usar Facebook, Twitter e WhatsApp

Em http://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2016/03/cada-sociedade-inventa-seu-jeito-para-usar-facebook-twitter-e-whatsapp.html

07/03/2016 - 07h56 - Atualizada às 08h16 - POR GUILHERME FELITTI

O antropólogo Juliano Spyer, da University of Central London, explica diferenças regionais na forma como brasileiros, chineses, indianos e outros povos fazem uso das mídias sociais

O Twitter, o Facebook e o Instagram oferecem as mesmas ferramentas para qualquer usuário no mundo. Mas, dependendo de onde ele vive ou do grupo social no qual está inserido, essas ferramentas terão diferentes utilidades. 

Por quase um ano e meio, a universidade britânica University of Central London (UCL) conduziu um estudo, chamado Why We Post ("Por que postamos", em tradução livre), para entender como diferentes sociedades se apropriam e usam tecnologias e mídias sociais no seu dia a dia.

Juliano Spyer, University of Central London (Foto: Reprodução/Facebook)

Pesquisadores viveram durante 15 meses em nove lugares distintos, como uma cidade operária na China, um município pobre em Trinidad e Tobago, uma comunidade na fronteira entre Turquia e Síria, e um vilarejo no interior da Bahia com 20 mil habitantes.

Foi lá, na casa de um morador, que o antropólogo brasileiro Juliano Spyer, radicado na Inglaterra, passou seus 15 meses entendendo como os brasileiros mais pobres interagem com as mídias sociais. Por um "acordo ético" com os moradores, os nomes originais das cidades não são revelados. Cada uma recebeu um codinome. A cidade brasileira é "Balduíno".

O estudo chegou a conclusões interessantes sobre como diferentes povos ou até classes sociais dentro de uma mesma sociedade encaram de maneira diversa as mídias sociais. De maneira geral, famílias mais pobres encaram o uso de plataformas como Facebook, Twitter e Instagram como incentivos à educação, enquanto os mais ricos, no sentido oposto, enxergam todas como um obstáculo aos estudos.

Há também descobertas curiosas. As selfies, febre entre os usuários de smartphones nos dois últimos anos, são feitas de formas diferentes ao redor do mundo. No Chile, são mais comuns as "footies", ou fotos dos próprios pés, enquanto no Reino Unido fazem sucesso também as "uglies", nas quais os usuários tentam se fotografar com a pior expressão possível.

Na entrevista a seguir, Spyer explica algumas das descobertas sobre o Why We Post, principalmente as que dizem respeito ao Brasil. O Why We Post pode ser consultado online como um site com mais de 100 filmes e onze e-books gratuitos sobre as comunidades estudadas.

Vocês argumentam que a mídia social não se resume às plataformas, como Facebook e Instagram, mas principalmente ao conteúdo compartilhado ali, que tem impacto na vida das pessoas. Pode explicar melhor essa definição?
Geralmente vemos pesquisas que estudam plataformas. O exemplo típico e quase desgastado é o do Twitter como forma de ativismo político. Fala-se também do Facebook sendo usado no contexto da primavera árabe, ou nos protestos de 2013 no Brasil. Isso dá a entender que essas ferramentas tiveram um papel no que aconteceu ali. O que vimos, no entanto, é que há gêneros de postagens que acontecem independentemente da plataforma, e que podem migrar de uma plataforma para outra. Quando se fala que tal evento aconteceu por causa do Twitter ou do Facebook, a gente precisa se perguntar antes qual Twitter ou qual Facebook. A nossa experiência usando esses serviços é compartilhada, em geral, com pessoas que têm gostos e visões de mundo parecidas com as nossas e isso dá margem para se pensar que em todo o mundo o serviço é usado do mesmo jeito. Em termos globais, o Twitter é geralmente visto como um espaço para a circulação de informação; para jornalistas e ativistas se manterem em contato uns com os outros. Mas na Inglaterra, adolescentes se apropriaram do Twitter para manter contato quando não estão nas escolas. E esse tipo de postagem evoluiu a partir do uso do BlackBerry Messenger (BBM), anterior ao Twitter e que foi abraçado por esse segmento de usuários, no passado.

Como o uso de Facebook, Instagram e WhatsApp pode revelar particularidades culturais de cada sociedade ou grupo social?
Esses serviços são apropriados localmente. Por exemplo, no interior da Bahia, onde eu morei e fiz a pesquisa, jovens e adolescentes que usam mais intensamente as mídias sociais têm conhecimento de filtros de postagem (filtro é aquele mecanismo do Facebook para a pessoa postar uma foto que apareça para apenas uma parte dos seus contatos), mas não os usam. O problema é se algo postado não for visto. Durante os primeiros seis meses eu achava que eles faziam isso por ingenuidade, por falta de experiência no uso da internet. Mas à medida que fui me tornando próximo a algumas pessoas, passei a ver que elas têm um entendimento sofisticado do que seja privacidade. Elas entendem que esse tipo de restrição é inútil porque, se alguém quiser ver o que você está postando usando filtros, vai ver as suas postagens com outras pessoas. Por exemplo, uma filha negou o pedido de amizade para a própria mãe, que estava querendo ver se a filha estava namorando escondido. Essa mãe procurou a mãe de uma amiga da sua filha e expôs o problema. Elas fizeram com que a amiga mostrasse as publicações da filha. A gente precisa entender como o outro percebe o que é privacidade no contexto em que vive, para daí entender o que está acontecendo.

O estudo alega que, ao contrário do que se argumenta atualmente, a proliferação de smartphones e redes sociais permite que algumas sociedades tenham um contato inédito com privacidade. Por quê?
Nós achamos que estamos ficando cada vez mais individualistas. Richard Sennett, sociólogo americano, é talvez o pesquisador mais conhecido a tratar hoje desse assunto. Recentemente, tivemos um livro de muito sucesso, o "Alone Together", da Sheril Turkle, argumentando que a tecnologia está nos afastando. Acontece que esses estudos partem de pesquisas feitas nos Estados Unidos ou na Europa; daí, circulam pelos jornais, revistas do mundo e tem-se a impressão de que esses fenômenos são globais. Esse tema da privacidade fica claro na China, por exemplo; nas nossas pesquisas de campo, a família operária chinesa (os trabalhadores das fábricas) acha que é normal que uma família saiba tudo o que está acontecendo na casa. As portas estão sempre abertas, quando elas existem, e qualquer um da casa pode entrar ou sair. O celular é a primeira experiência de um equipamento que permite que a pessoa faça coisas sem que as outras saibam.

Balduino (Foto: Divulgação)

Como o uso constante de imagens e vídeos no Facebook, no WhatsApp e no Instagram tem relação com os índices de analfabetismo?
As mídias sociais são muito populares em lugares como Índia e Brasil, tanto para as elites educadas como também para quem tem baixa ou nenhuma escolaridade. Um dos motivos para que isso aconteça é o crescimento das possibilidades de comunicação por imagens. No povoado onde eu trabalhei, por exemplo, quase todo mundo tem dificuldades para ler e escrever. Quem teve pouca oportunidade de ir para a escola não se sente à vontade para escrever um comentário sobre política, porque essa pessoa não quer ser ridicularizada por causa dos seus erros de português. O meme resolve isso. Essa grande circulação de conteúdo visual permite que a pessoa que não se expressaria, se precisasse escrever, possa fazer isso: dizer o que acha do aborto, da religião, da política, do futebol, da corrupção. Nesse sentido, as mídias sociais não impactam o índice de analfabetismo, mas o grande encantamento que as crianças e os adolescentes das classes populares sentem por usar Facebook e WhatsApp e por jogar online definitivamente tem um impacto. Os pais desses jovens aprendiam a ler e a escrever, mas daí iam trabalhar em empregos manuais. As mídias sociais deram um motivo prático e palpável para esses jovens usarem a escrita e a leitura o dia inteiro. Antes da internet, uma criança brasileira pobre muito provavelmente chegava à escola sem nunca ter tido interesse em ler. Hoje, porque ela tem conta no Facebook e joga no computador, ela já traz para a  sala de aula um conhecimento do teclado e dos sinais gráficos, e também um desejo de saber mais, para seguir usando esses serviços.

Como foi sua experiência vivendo os 15 meses na Bahia?
A antropologia inglesa não recomenda que o pesquisador estude em seu próprio país, porque entende que a vivência do choque cultural é fundamental para que a gente aprenda. A ideia é que o pesquisador vá aprender os "códigos invisíveis" (tidos como óbvios no país de origem), justamente porque vai tropeçar em todos eles. Mas eu percebi, por essa experiência, que isso não faz sentido em países como o Brasil. Eu vivi esses 15 meses em constante estado de surpresa, me interrogando se aquele era mesmo o país em que eu nasci e vivi a maior parte da minha vida. Se não fosse pela antropologia, a única outra possibilidade de ter feito o que eu fiz seria como missionário, e isso não tem nada a ver com a distância. O povoado em que morei estava a uma hora de ônibus de Salvador e tinha tudo: supermercado, internet, TV a cabo e escola. Mas acho que a gente não se dá conta de como a sociedade é dividida e os grupos vivem distantes em termos de gosto, costumes etc. Pude frequentar durante muitos meses igrejas evangélicas e conviver com essas pessoas. As elites intelectuais brasileiras têm muito preconceito contra os evangélicos e têm uma visão estereotipada dessas pessoas; de que elas têm a cabeça fechada e são conservadoras. Isso sem nunca ter entrado em uma igreja ou tido a oportunidade de ver como essa generalização é vaga; dentro da mesma igreja você vai encontrar pessoas conservadoras e pessoas progressistas; há tensões dentro da igreja em relação a gerações, a relações de gênero etc. Sobre o restante da sua pergunta: eu uso o nome fictício de Balduíno para me referir a esse povoado por um acordo ético feito com os informantes. Essas pessoas não estão simplesmente preenchendo formulários. Fiquei amigo de várias famílias e tivemos conversas muito íntimas e delicadas. É muito importante preservar a intimidade dessas pessoas, e por isso a nossa equipe tem por obrigação deixar anônimas as informações. Isso é ainda mais importante no Brasil, para não colocar essas pessoas em situações de maior vulnerabilidade ao expor as histórias delas. Moramos durante 15 meses e vivemos em uma casa local, sim, mas menos exposta, porque me mudei com a minha família. Essa negociação precisou acontecer, porque minha mulher abriu mão de viver onde queria por 15 meses, para estarmos juntos ali.

spyer_balduino1 (Foto: Divulgação)

Comparado aos estudos conduzidos pelos outros antropólogos, quais são as particularidades de uso de mídias sociais por parte dos brasileiros? Há algum tipo de uso das plataformas sociais que é encontrado só aqui?
Eu não falaria sobre os "brasileiros" porque essa categoria é muito ampla. Nós moramos em um povoado ligado à industria do turismo na Bahia. Essas famílias, muitas migrantes, fazem parte desse grande fenômeno social que o Brasil vem experimentando nos últimos 50 anos, de se tornar predominantemente urbano. Esses, então, são os brasileiros que vêm sendo chamados de nova classe média ou nova classe trabalhadora, dependendo do enquadramento teórico usado. Um elemento fundamental a ser destacado diz respeito à visão que temos sobre a influência da internet na vida. A gente vê a internet como mais um passo nesse movimento de cada vez mais encurtar a distância entre os lugares. Então, há 200 anos havia o correio, depois veio o telégrafo, depois o rádio, depois o telefone, depois o satélite e agora a internet. Essa é uma "narrativa" com que a elite educada no Brasil, que é cosmopolita, vai se identificar. Tem a ver com usar a internet para driblar as barreiras de espaço e tempo e poder manter contato com quem está longe. Isso, no entanto, não corresponde a como a internet funciona em Balduíno. A gente fala da internet como essa estrutura de cabos de fibra óptica e computadores avançados; no entanto, nesse povoado e provavelmente também entre brasileiros desse mesmo segmento, as mídias sociais servem para eles se manterem em contato com as pessoas que eles já encontram e convivem cotidianamente.

O estudo afirma que no Brasil a igualdade online não significa que é também offline, dando o exemplo de funcionários que têm celulares iguais aos dos patrões, sem que a relação se torne pessoal. O smartphone, nesse caso, se transforma em uma ferramenta de status social? É um fenômeno que se observa apenas no Brasil?
O telefone não diferencia quem o tem, diferencia pejorativamente aqueles que ainda não têm acesso a ele. Um professor local me contou de uma mãe muito pobre, que sustenta a casa sozinha com os filhos e gastou R$ 1,7 mil de uma indenização trabalhista para comprar um telefone caro para a filha adolescente. O professor achou um absurdo que ela usasse o dinheiro daquele modo e não para comprar a porta do banheiro da casa deles. Essa adolescente não tinha se tornado mais importante entre os colegas dela por causa do telefone, porque todos eles têm. O telefone em si não serve só para mostrar prestígio; ele serve para a pessoa seguir pertencendo àquele grupo. Uma jovem também do mesmo povoado me disse um dia que desconfia de quem tenha a idade dela e não esteja no Facebook. Ter o equipamento serve para a pessoa se manter dentro dos círculos sociais dela.

A pesquisa indica que só 39% dos brasileiros já namoraram alguém conhecido online. Achei sempre que fosse mais. O número te surpreendeu?
Em geral se pesquisa a internet procurando as pessoas que a usam mais intensamente. Isso acaba distorcendo o resultado, porque os usos cotidianos das pessoas comuns não são pesquisados. Esse resultado que você menciona leva em consideração respostas de pessoas que moram nessa vila e usam a internet, mas não apenas os jovens solteiros. Há homens e mulheres, desde a adolescência até idosos. A internet e as mídias sociais são geralmente retratadas como fenômenos ligados à juventude, e por isso essa expectativa de que muitas pessoas tenham namorado com alguém conhecido pela internet. No contexto desse povoado, com baixa escolaridade, muitas pessoas ainda estão aprendendo a usar essas ferramentas. Para muitos, é difícil escrever; como você vai flertar com outro sem passar pela "fase" da conversa pelo chat? Mais: nem todo mundo, nessas pesquisas, quer admitir o que fez ou não fez, especialmente em questionários preenchidos na rua, como foi o caso desse. No entanto, esse é o resultado que recebemos. Mas podemos dizer também, pela parte qualitativa da pesquisa, que na Bahia as pessoas não precisam de mídias sociais pra namorar (risos).

Pelos resultados da pesquisa, o Brasil parece ter a impressão que mídia social é ruim para a educação, para o emprego e que aumenta a infidelidade, enquanto chineses e indianos pensam o contrário. De onde vem essa desconfiança brasileira?
Esse resultado expressa a percepção que as pessoas desses lugares têm em relação às mídias sociais. Na verdade, a perspectiva na China, no Brasil e na Índia varia segundo a posição socioeconômica. As famílias mais pobres em Balduíno, por exemplo, sentiam orgulho de ver seus filhos passando as tardes nas LAN houses, porque isso era entendido como uma demonstração de interesse por tecnologia, o que sugere a perspectiva de se ter empregos melhores no futuro. Já as famílias evangélicas, com pais e mães com maior alfabetização, faziam de tudo para tirar os filhos das LAN houses. Esse é um dos motivos da compra dos computadores domésticos. Elas não querem que o filho ou a filha fiquem sem supervisão e corram o risco de serem expostos a situações de perigo. Em uma das famílias com quem eu convivi, os pais descobriram a tempo que a filha de 12 anos estava conversando por celular secretamente com um homem mais velho que ela tinha conhecido pelo Facebook. O que... ( continua em http://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2016/03/cada-sociedade-inventa-seu-jeito-para-usar-facebook-twitter-e-whatsapp.html )


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FIALHO, Arivelto Bustamante. QUADROS, Augusto Wagner Farias de. CARVALHO, Nilton Cezar. Tecnologia da informação e educação contemporânea. Porto Alegre: César Gonçalves Larcen Editor, 2015. 65p. il.


CALLONI, H.; LARCEN, C. G. From modern chess to liquid games: an approach based on the cultural studies field to study the modern and the post-modern education on punctual elements. CRIAR EDUCAÇÃO Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação UNESC, v. 3, p. 1-19, 2014.
http://periodicos.unesc.net/index.php/criaredu/article/view/1437


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